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DEPENDÊNCIA

   A dependência do álcool é associada a alterações na transmissão dopaminérgica do circuito mesolímbico cerebral, no sistema opióide do SNC, na neurotransmissão glutamatérgica e GABAérgica, no sistema serotoninérgico e no sistema neuroendócrino. Para além destas modificações, alterações genéticas e epigenéticas parecem também estar associadas a este fenómeno de dependência [28, 29]. No entanto, este fenómeno de dependência não ocorre quando um indivíduo ingere álcool uma única vez ou irregularmente, isto acontece quando há um consumo prolongado.

  • Alterações ao nível da neurotransmissão glutamatérgica e GABAérgica

   O recetor GABA está envolvido na sinalização do GABA e o recetor NMDA está envolvido na sinalização do glutamato. Os recetores GABA e NMDA têm papéis competitivos na excitabilidade e transmissão neuronal. A ativação dos recetores GABA leva a uma diminuição da atividade neuronal, sendo que o oposto ocorre quando há a ativação do recetor NMDA. O álcool quando ingerido vai ter efeitos opostos nestes recetores, isto é, aumenta a atividade do recetor GABA e diminui a do NMDA [30].

Figura 2.  Neurotransmissão glutamatérgica e GABAérgica [25]

[25] A.W. Jones. Pharmacodynamics and Pharmacokinetics of Alcohol. Presented at meeting of the California Association of Toxicologists, Santa Rosa, CA, 1-2 August, 2003.​

[28] Thomas Hillemacher. Biological Mechanisms in Alcohol Dependence - New Perspectives, Alcohol and Alcoholism. 2011; 46(3): 224-23.

[29] Nicholas W. Gilpin, George F. Koob. Neurobiology of Alchohol Dependence - Focus on Motivational Mechanisms, National Institute on alcohol abuse and alcoholism. 2008; Vol. 31, No. 3.

[30] Sonia Luz Albarracín Cordero, et al. A Molecular Mechanism of Ethanol Dependence: The Influence of the Ionotropic Glutamate Receptor Activated by N-Methyl-D-Aspartate, Public Health. 2012; 6: 169-200.

[31] Andrzej Z. Pietrzykowski and Steven N. Treistman. The Molecular basis of tolerance. Alcohol Research & Health. 2008; Vol. 31, No. 4.

[32] American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition. Washington, DC: the Association, 1994.

[33] Kasper, D., et al. Harrison's Principles of Internal Medicine. 2015, New York: McGraw-Hill Education.

[34] Mary Beth Flynn Makic. Alcohol withdrawal syndrome. Journal of PeriAnesthesia Nursing, 2017; Vol 32, No. 2: 140-141.

TOLERÂNCIA

  A tolerância é definida como uma resposta diminuída ao álcool ao longo da exposição repetida ou prolongada [31]. Depois de beber continuamente, o consumo de uma quantidade constante de álcool produz um efeito menor ou quantidades crescentes de álcool são necessárias para produzir o mesmo efeito [32].

  A tolerância ao álcool pode ser dividida em 3 categorias, com base no tempo em que esta se desenvolve após exposição ao álcool. O início da tolerância pode ocorrer dentro de minutos (15 a 30 minutos) durante uma única exposição ao álcool, isto é, tolerância aguda, ou durante períodos de tempo mais longos e com exposição prolongada ao álcool, isto é, tolerância rápida ou crónica. A tolerância rápida é muito semelhante à crónica, mas desenvolve-se muito rapidamente entre 8 a 24h, enquanto que, a crónica ocorre passadas mais de 24h [31].

  O fenómeno da tolerância ao álcool envolve pelo menos 3 mecanismos compensatórios [33]:

1. após 1-2 semanas de consumo diário, é possível se verificar tolerância metabólica ou farmacocinética, com um aumento de 30% da taxa de metabolização hepática do etanol. Esta alteração desaparece quase tão rápido como se desenvolve;

2. a tolerância celular ou farmacodinâmica desenvolve-se através de alterações neuroquímicas que mantêm o funcionamento fisiológico relativamente normal, apesar da presença de álcool. Subsequentes diminuições nos níveis sanguíneos contribuem para os sintomas de abstinência;

3. os indivíduos aprendem a adaptar o seu comportamento e, por isso, conseguem funcionar melhor sob o efeito do álcool.

ABSTINÊNCIA

  A síndrome de abstinência alcoólica é um conjunto de sintomas que podem ocorrer depois de uma redução drástica no consumo de álcool após um período de consumo excessivo [34].

  O álcool é um depressor do sistema nervoso central que aumenta a libertação do GABA no cérebro, nomeadamente a de GABA A (ver TOXICODINÂMICA). Uma exposição permanente ao álcool resulta numa adaptação do cérebro aos seus efeitos depressores, o que faz com que sejam precisas doses maiores para exercer efeitos semelhantes. Reduções nos níveis de álcool no sangue produzem uma resposta contrária [34].

  Os sintomas geralmente incluem ansiedade, insónias, tremores, sudorese, vómitos, frequência cardíaca acelerada e febre ligeira. Sintomas mais graves podem incluir convulsões, alucinações, e delirium tremens. Os sintomas têm início cerca de seis horas após a última bebida, pioram passadas 24 a 72 horas e melhoram em sete dias [34].

  A identificação precoce e a monitorização rigorosa dos sintomas com um tratamento agressivo é essencial para reduzir as complicações associadas à síndrome de abstinência [34].

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