1
ABSORÇÃO
Cerca de 20% do etanol é absorvido no estômago [14].
A absorção do etanol demora, em média, 1 hora, no entanto, o tempo de absorção é influenciado pela concentração de álcool que é ingerida [15].
Para além disso, a absorção também é influenciada pelo rápido esvaziamento gástrico, sendo este um dos potenciais fatores para o rápido aumento da concentração de álcool no sangue. Uma vez que a absorção do álcool ocorre mais rapidamente no intestino delgado do que no estômago, numa situação de esvaziamento gástrico retardado, há uma menor absorção do álcool para a corrente sanguínea e, como tal, estudos indicam que a absorção do álcool pode ser retardada quando este é ingerido após refeições. Esta é a principal razão pela qual a ingestão de alimentos, especialmente ricos em gordura, pode diminuir a taxa de absorção e possivelmente do metabolismo pré-sistémico do etanol, enquanto que a intoxicação ocorre mais rapidamente quando o etanol é consumido de estômago vazio [16].
Cerca de 80% do etanol é absorvido no intestino delgado [14].
Apenas uma fração minoritária do etanol é absorvida pela mucosa bocal, esófago e intestino grosso [14].
2
DISTRIBUIÇÃO
Após a absorção do etanol, este é distribuído do sangue para os tecidos e órgãos de forma proporcional ao conteúdo relativo em água desses tecidos e órgãos. Apesar de ser praticamente insolúvel em gorduras, o etanol tem capacidade para atravessar membranas biológicas. [17]
São nos órgãos com elevado fluxo sanguíneo, tais como o cérebro, fígado, pulmões e rins onde o etanol atinge maiores concentrações [18].
Está descrito que, em geral, após ingestão de uma quantidade álcool equivalente à ingerida por um homem, as mulheres apresentam maiores concentrações de etanol no sangue pelo facto de possuírem um menor volume de distribuição (VD) e uma diminuição da álcool desidrogenase (ADH) gástrica, o que resulta numa diminuição do metabolismo, havendo, consequentemente, aumento da biodisponibilidade do etanol [19].
3
Metabolismo
O principal órgão responsável pela metabolização do etanol é o fígado, onde ocorrem reações catalisadas por, pelos menos, dois sistemas enzimáticos, a aldeído desidrogenase e o citocromo P450, que oxidam o álcool facilitando a sua posterior eliminação do organismo [14].
Quando em pequenas quantidades, o etanol pode ser metabolizado no trato gastrointestinal [20].
O etanol pode ser ainda metabolizado noutros órgãos, como no rins, cérebro [20].
4
ELIMINAÇÃO
O etanol é excretado diretamente através da urina, sendo que o álcool inibe a libertação da hormona antidiurética (ADH), hormona responsável pelo controlo da reabsorção de água, provocando aumento da diurese [25]. É também excretado através do suor e da respiração.
No entanto, a metabolização do etanol a acetaldeído no fígado corresponde ao principal mecanismo pelo que qual o etanol é maioritariamente eliminado do organismo [14].
[14] Kasper, D., et al. Harrison's Principles of Internal Medicine. 2015, New York: McGraw-Hill Education.
[15] Mitchell, M.C., E.L. Teigen, and V.A. Ramchandani. Absorption and Peak Blood Alcohol Concentration After Drinking Beer, Wine, or Spirits. Alcoholism, Clinical and Experimental Research, 2014. 38(5): p. 1200-1204.
[16] R. Thomas Gentry. Effect of Food on the Pharmacokinetics of Alcohol Absorption. ALCOHOLISM: CLINICAL AND EXPERIMENTAL RESEARCH, April 2000. Vol. 24, No. 4.
[17] Hoffman, R.S., et al., Goldfrank's toxicologic emergencies. 2015: New York: McGraw-Hill.
[18] Mucklow, J. Modern Pharmacology with Clinical Applications. British Journal of Clinical Pharmacology, 2004. 58(3): p. 337-337.
[19] Chan, L.N. and G.D. Anderson. Pharmacokinetic and pharmacodynamic drug interactions with ethanol (alcohol). Clin Pharmacokinet, 2014. 53(12): p. 1115-36.
[20] National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism. Alcohol Metabolism: An Update. Number 72, July 2007. https://pubs.niaaa.nih.gov/publications/aa72/aa72.htm
[21] Elisabetta Ceni, Tommaso Mello, Andrea Galli, Pathogenesis of alcoholic liver disease: Role of oxidative metabolism, World Journal of Gastroenterology. 2014; 21; 20(47): 17756-17772.
[22] Adaptado de: http://unifenasresumida.blogspot.pt/2013/07/dha.html
[23] Regateiro, Fernando J - Manual de genética médica. 1ª ed., 2ª reimpressão (2007) ed. Coimbra: [s.n.]. ISBN 978-989-26-0436-7 (PDF).
[24]Alcoholism, N.A.S.I.o.t.M.P.o., Alcoholism : a molecular perspective / edited by T. Norman Palmer. NATO ASI series. Series A, Life sciences ; v. 206, ed. T.N. Palmer and D. North Atlantic Treaty Organization. Scientific Affairs. 1991, New York: Plenum Press.
[25] Epstein, M. Alcohol's impact on kidney function. Alcohol Health Res World, 1997. 21(1): p. 84-92.
No organismo, o álcool é metabolizado por diversas vias e processos. A via mais comum ocorre no citosol, em duas etapas: a álcool-desidrogenase (ADH) converte o etanol em acetaldeído, o qual é um metabolito tóxico e, seguidamente, este é convertido em acetato pela aldeído-desidrogenase (ALDH).
Quando o indivíduo ingeres grandes quantidades de álcool pode ocorrer a conversão do etanol em acetaldeído através da enzima microssomal do cit. P450, a CYP2E1 [20,21].
A catalase peroxissomal é uma via metabólica adicional envolvida na oxidação do etanol. A catalase é uma enzima que normalmente catalisa a remoção de H2O2, mas pode catalisar a oxidação do álcool a acetaldeído. Esta via não é significativa no fígado, mas parece ser importante no cérebro. De facto, o acetaldeído produzido a partir desta via parece desempenhar um papel na tolerância e no vício do álcool, interferindo na neurotransmissão de catecolaminas [20, 21]
Figura 3. Mecanismo de ação do etanol, adaptado de [22].
Vários estudos indicam que a ingestão de etanol está mais associada a efeitos indesejáveis em orientais do que em caucasianos, dada a diferente capacidade metabólica entre essas populações [23].
O etanol é convertido a acetaldeído pela ADH, a qual é uma enzima resultante da combinação de diferentes subunidades, codificadas por três diferentes genes. A subunidade α é codificada pelo ADH1, a subunidade β é codificada pelo ADH2 e a subunidade γ codificada pelo ADH3. O gene ADH2 pode apresentar uma forma mutante que codifica para uma subunidade β2, a qual apresenta maior atividade catalítica do que a subunidade típica β1. A subunidade β2 é encontrada com muito mais frequência nos orientais (mais de 85%), enquanto que, nos caucasianos há uma predomínio da subunidade típica β1 (mais de 90%) [24].
A enzima ADLH, responsável pela metabolização do acetaldeído a acetato, apresenta também uma atividade polimórfica em orientais. Cerca de 45% da população chinesa não apresenta a enzima ALDH2, a qual é encontrada nas mitocôndrias [23].
A presença de um gene ADH2 mutante conduz a um rápido metabolismo do etanol a acetaldeído e a deficiência em ADLH2 diminui a capacidade de destoxificação do acetaldeído a acetato. Assim sendo, há um grande aumento da concentração sanguínea de acetaldeído, o qual é um composto tóxico que causa uma enorme sensação de desconforto. Desta forma, os orientais ficam mais suscetíveis à ingestão de etanol do que os caucasianos, no entanto, essa suscetibilidade também costitui um fator protetor, nesta etnia, contra o alcoolismo [23].